O Mundo Sombrio de Sabrina e as referências ao gênero de horror

No dia 24 de janeiro estreou na Netflix a terceira parte de O Mundo Sombrio de Sabrina. Baseada na HQ lançada pela Archie Comics, a série criada por Roberto Aguirre-Sacasa mostra os dilemas da bruxa adolescente interpretada por Kiernan Shipka. Diferente da versão que fez sucesso nos anos 90, com uma pegada semelhante aos sitcoms, a que foi lançada na plataforma de streaming, como o próprio nome já entrega, traz uma adaptação mais sombria do universo das bruxas, mas sem perder o apelo adolescente.

Se nas duas primeiras temporadas nós vimos a protagonista Sabrina Spellman dividida entre a vida de adolescente e o compromisso com o Senhor das Trevas, na terceira ela terá que lidar com os pagãos, eternos inimigos de seu coven. E é nesta temporada que nos deparamos com referências a três subgêneros do horror, que iremos tratar ao longo do texto. Já avisamos que, a partir do próximo parágrafo, teremos SPOILERS do programa e dos filmes que usaremos para exemplificar cada subgênero. Daqui pra frente é por sua conta e risco.

Então, como falado acima, a série mergulha em três estilos distintos do horror: o body horror, o folk horror e o horror cósmico. Começando pelo body horror, também conhecido como horror corporal e biológico, ele se caracteriza por mostrar corpo humano se degenerando de forma bem visceral causando aversão no público.

Na série, esse tipo de horror, que surgiu nos anos 50 e teve seu ápice na década de 70, é visto no sexto episódio quando Hilda (Lucy Davis) é enfeitiçada e começa a se transformar em uma aranha. Além de vários calombos no rosto, a bruxa ainda ganhou garras e patas peludas. Algo semelhante ao que é visto em A Mosca, filme de 1986, do diretor David Cronenberg, um dos grandes nomes do body horror e que foi homenageado até na animação Rick e Morty. No último episódio, para se vingar da mulher que a transformou em aranha, Hilda usa técnicas do vodu para quebrar os ossos de sua rival. A cena remete ao filme Suspiria (2018), de Luca Guadagnino, que coincidentemente trata sobre as bruxas de uma conceituada escola de dança. Em uma das cenas, uma das alunas tem seu corpo destroçado da forma mais angustiante com direito a costelas sendo quebradas e queixo sendo deslocado.

Já o folk horror, também chamado de horror rural ou folclórico, explora o folclore de determinado povo através de contos e lendas. Outra característica é o apego à natureza e a lugares muitas vezes isolados. Na série, o folk horror está presente em um dos plots centrais da série que é o culto a uma divindade chamada de Homem Verde, que é uma grande estátua feita de grama, uma referência clara ao filme O Homem de Palha (1973), de Robin Hardy, que mostra uma comunidade que cultuava o deus do título. O subgênero voltou a ganhar força recentemente com A Bruxa, filme de 2015 dirigido por Robert Eggers, e Midsommar, longa lançado em 2019 com direção de Ari Aster.

Por fim, o horror cósmico tem o autor Howard Phillips Lovecraft (ou H. P. Lovecraft) como seu principal representante. Não é à toa que esse estilo também é chamado de horror lovecraftiano. As histórias de horror cósmico sempre exploram mitos antigos, criaturas apresentadas como “algo além da compreensão humana”, o medo vindo do espaço e a perda da sanidade mental por parte de quem tem contato com tais criaturas. Em Sabrina, além de um dos personagens carregar o sobrenome Lovecraft, o final da temporada mostra a libertação de uma criatura que trará o fim de todas as coisas. O ser é entregue a um dos feiticeiros dentro de um ovo por um ser de aspecto semelhante a Dagon, uma das criações de Phillips semelhante a um híbrido entre homem e anfíbio. E o embrião contido no ovo se assemelha ao Chthulu, o monstro mais famoso nas obras do autor que é uma mistura de polvo com dragão.

Na sétima arte, o horror cósmico está presente em filmes como Aniquilação (2018), dirigido por Alex Garland e estrelado por Natalie Portman. O cultuado It – A Coisa bebe da obra de Lovecraft visto que Pennywise veio de um meteoro que caiu na Terra. Até mesmo O Farol (2020), de Robert Eggers tem uma sutil referência lovecraftiana. E para este ano está previsto o lançamento de A Cor que Caiu do Espaço, adaptação de um dos livros de Lovecraft estrelada por Nicolas Cage.

E você? Já conhecia esses subgêneros do horror? Que outras referências a esses e outros estilos você percebeu na série da bruxa adolescente? Puxe uma cadeira em nossa mesa, sente e deixe seu comentário para interagir com a gente aqui no site.

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